A redução de uso de chupeta e mamadeira na infância está ligada à amamentação na primeira hora de vida
A
prática de mamar na primeira hora de vida está fortemente associada à
redução do uso de utensílios como chupeta e mamadeira ao longo da
infância. É o que aponta um estudo da Faculdade de Saúde Pública (FSP)
da USP. O nascimento em Hospital Amigo da Criança e o acompanhamento na
rede básica do SUS foram fatores que também influenciaram o menor uso
dos chamados “bicos artificiais”.
A pesquisa da fonoaudióloga
Gabriela Buccini buscou explorar os determinantes do uso de chupeta e
mamadeira em crianças menores de um ano nas capitais brasileiras e no
Distrito Federal. Os determinantes são fatores que se associam ao maior
uso dos utensílios pesquisados. “Buscamos explorar os fatores
individuais, ou seja, dos bebês, das mães e os fatores socioeconômicos e
da característica dos serviços de saúde, o ponto de inovação da linha
de pesquisa”, conta Gabriela. Com relação aos serviços de saúde, foram
analisados se os tipos de serviços, público ou privado, influenciariam
ou não no uso dos utensílios.
Segundo a pesquisadora, o estudo se
voltou para o uso de chupeta e mamadeira devido às consequências que
essa prática traz para a saúde da criança, causando problemas como
respiração bucal, alteração da linguagem, redução no tempo de
aleitamento materno, otite (inflamações no ouvido), que impactam de
forma negativa em toda a qualidade de vida da criança. “Além disso,
dentro de todo o desenvolvimento dos utensílios da humanidade, a chupeta
e a mamadeira foram assumindo características prioritárias”, ressalta.
“Apesar das medidas de controle e normatização do marketing, com o
avanço da tecnologia, a cada dia têm-se novos formatos e modelos de
mamadeiras e chupetas que promete aos que consomem, os pais e os bebês,
maior segurança, tranquilidade, conforto e comodidade. Estamos na era
das ‘urgências’ e da descartabilidade. Essa concepção traz à luz uma
importante reflexão sobre a função da chupeta e da mamadeira nas
relações estabelecidas no mundo pós-moderno”, completa.
Foram
coletadas informações de um estudo epidemiológico transversal que
utilizou o banco de dados da “II Pesquisa de Prevalência de Aleitamento
Materno nas Capitais e no Distrito Federal (PPAM)”, realizada em 2008
pelo Ministério da Saúde (MS). Ao todo, 34.366 crianças menores de um
ano participaram do levantamento. A pesquisadora apontou que esse estudo
é o primeiro a pesquisar os determinantes do uso de bicos artificiais
em uma amostra representativa de crianças residentes nas capitais
brasileiras. A vantagem desse processo seria a classificação em três
categorias, o uso exclusivo de chupeta, o uso exclusivo de mamadeira e o
uso de bicos artificiais, o que possibilita o avanço nos conhecimentos
sobre a utilização desses utensílios.
Alertas de saúde
Gabriela
ressaltou ainda que a principal motivação para a pesquisa estava em
dados alarmantes levantados pelo meio da saúde, como por exemplo o fato
de o uso de bicos artificiais (chupeta e mamadeira) em lactentes ser um
hábito cultural com alta prevalência em diversos países. Outro ponto
seria que, há mais de 30 anos, o consenso científico internacional
reconhece os bicos artificiais como responsáveis por alterações no
desenvolvimento global da criança e na qualidade de vida. “Vale destacar
ainda que estudos anteriores constataram alterações na saúde da criança
decorrentes ou agravadas pelo uso de bicos artificiais, entre elas a
respiração bucal, alterações no sistema sensório-motor oral, alteração
no processo de aquisição da linguagem, otite média aguda e maloclusão,
que aparece mais comumente nas formas de mordida aberta anterior e
mordida cruzada”.
Para a pesquisadora, houve uma colaboração
efetiva do projeto no sentido de incentivar o desenvolvimento de
políticas públicas eficientes e que permita a promoção da saúde e o
atendimento de toda a população. “De uma forma indireta, conseguimos
mostrar que o incentivo a políticas de saúde é a principal saída no
combate aos problemas atuais do sistema”, completa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário